CAIO MOURÃO


“O prazer de desenhar uma joia, de idealizá-la, é tão intenso quanto o de executá-la com as próprias mãos. Sentir a forma sair do papel para a realidade compensa plenamente as horas às  vezes gastas nem detalhe quase insignificante. Tenho impressão de que, se relegasse a outra pessoa a tarefa de dar vida a alguma coisa saída da minha imaginação, viveria insatisfeito.”

 

Pai do que veio a se chamar de joalheria de autor no Brasil, Caio Mourão nasceu em 1933, em São Paulo, mas de paulista tem apenas a certidão de nascimento. Morando no Rio desde 1957, Caio é um carioca de alma, foi um dos fundadores da Banda de Ipanema e também é verbete no livro de Rui Castro sobre o bairro mais famoso do país.

O nome de Caio está fortemente ligado à joalheria, mas ele entrou no mundo das artes através da pintura, tendo estudado com Aldo Bonadei e colaborado com Di Cavalcanti e Bandeira na realização de painéis. Como pintor e desenhista, chegou a expor na II Bienal de São Paulo e em Salões do Rio de Janeiro, Bahia e na capital paulista.

O interesse pela joalheria surgiu em 1955, trabalhando como aprendiz em oficinas. Porém, seu estilo próprio, baseado nos conhecimentos de desenho e pintura, chamava atenção. No ano seguinte realizou a sua primeira exposição de joias, no Museu da Arte Moderna de São Paulo.

Já morando no Rio de Janeiro, em 1957 passou a dedicar-se exclusivamente à joalheria e realizou várias exposições em galerias de arte e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1963 voltou à Bienal de São Paulo, desta vez ganhando o Prêmio Internacional de Joalheria do evento.

Na década de 60, desenhou joias para Pierre Cardin, unindo joalheria e moda, em mais um movimento inédito nas artes. Em 1969, foi morar em Portugal, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, para dar aulas de desenho de joalheria e se especializou em prataria pesada. Nos anos 70, virou referência e ter uma “joia do Caio” era sinal de status e bom gosto. Nesta época, chegou a representar a si próprio na novela da TV Globo “O Rebu”, muitos anos antes de Gilberto Braga encher “Celebridades” de pessoas famosas. 

Sua joias sempre foram consideradas pequenas esculturas, o que ficava ainda mais claro nos muitos troféus criados e executados por ele. Nesta área, fez o “Gaivota de Ouro” para o II Festival Internacional de Cinema e também o “Monólito Negro”, oferecido a Arthur C. Clark, diretor de “2001”, ambos para o mesmo festival. Outros foram: Angra I, Personalidade Global, Galos de Ouro, Urubu de Prata (com o humorista Henfil), Embratel, Riotur e o Troféu Shell de MPB, o qual faz desde 1981.

Apesar de sua forte ligação com o Rio de Janeiro e com Ipanema, Caio queria um pouco mais de paz para criar e expandir seus limites. Assim, na década de 80 foi morar em Iguaba Grande, na Região dos Lagos. As “pequenas esculturas” começaram a ganhar tamanho. Primeiramente vieram os “Vivandos”, esculturas móveis, de pequeno porte, feitas com aço e imãs.  Aos poucos, porém, elas foram crescendo, mas o aço e a natureza continuaram presentes. Caio passou seus últimos anos dividindo a sua vida entre Iguaba e o Atelier em Ipanema, onde supervisionava os cursos coordenados por sua filha Paula.

Dono de um humor ferino e conhecido como bom contador de histórias, no começo dos anos 80 passou a escrever crônicas para a revista Caros Amigos, que posteriormente viraram os livros Prata da Casa I e Prata da Casa II. Caio continuou ativo e cheio de idéias e preparava uma grande exposição retrospectiva com desenhos, pinturas e réplicas das primeiras joias e suas esculturas mais recentes, quando faleceu em Março de 2005, em Araruama, por insuficiência cardio-respiratória aos 71 anos. 

Jorge Amado
Escritor

“Senhor dos metais mais nobres, do ouro e da prata, íntimo das ágatas e turmalinas. Caio Mourão, grande artista brasileiro, cria um mágico universo de colares, brincos e anéis, os quais, ao contato com a pele das mulheres, ganham vida, movimento e alma. São estrelas, flores, pássaros e poesia”